4º Workshop IDEIAS movimenta terceiro setor em São Paulo
- Lar Sírio Pró-Infância
- 2 de set.
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Atualizado: 3 de set.
Mais de 30 organizações sociais participaram do evento promovido pelo Lar Sírio
Aprendizado, partilha, novidade, um evento necessário. Essas foram algumas das opiniões atribuídas à quarta edição do Workshop IDEIAS (Indicadores, Desenvolvimento, Efetividade e Impacto em Assistência Social) realizado pelo Lar Sírio Pró-Infância na sexta, 29 de agosto, na Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, em São Paulo, com o patrocínio da Diálogo Engenharia.
Mais de 170 pessoas entre representantes de organizações sociais, do poder público e empresas se inscreveram para o evento que abordou a avaliação de impacto social sob o tema “Avaliando a inclusão produtiva na prática: conexão de jovens, mercado e oportunidades”.
Em sua saudação como anfitrião do evento, Dr. William Adib Dib Júnior, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira e diretor jurídico do Lar Sírio Pró-Infância, falou sobre a importância de honrar a história para construir um futuro melhor. “Acho importante sempre honrar a história, além do grande orgulho que tenho pelos nossos antepassados que são exemplos inspiradores. E acredito que seja assim também que a esperança se fortalece e a expectativa de um mundo melhor ganha força para enfrentar tantos desafios que se impõem no nosso dia a dia”.
Além do Dr. William Dib, estiveram presentes representando o Lar Sírio Pró-Infância a vice-presidente administrativa Silvia Cury Pugliesi; as diretoras Eliana Bonduki Bez e Katia Bunduki Luka; as conselheiras Mariana Zaher, Nailize Kaba e Sylvia Hannun Abdalla; a superintendente Elaine Soares; as gerentes Ana Paula Garcia e Marina Hannun; os coordenadores Anderson Bueno, Bárbara Mañas, Marinalva do Nascimento, Neusa Sanchez, Rogerio Rodrigues, Sandra Oliveira Santos; e membros das equipes de Desenvolvimento Institucional, Socioeducacional e Assistência Social.
Na palestra com o tema “Desafios e oportunidades para medir o impacto social”, Luciana Kamimura, gerente executiva do Instituto Cury, apresentou a importância do terceiro setor para o cenário brasileiro, falou sobre porque é importante medir o impacto social e a diferença entre impacto e resultados, conceito que normalmente confunde os líderes das organizações sociais. Ela também explicou o conceito de SROI (Retorno Social Sobre Investimento) como uma ferramenta de aferição de impacto social, elencou os desafios mais comuns para medir impacto social, apresentou casos de sucesso e reforçou a importância da transparência e do alinhamento das práticas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e às práticas de ESG (Ambientais, Sociais e de Governança).
“Quando alguém prometer que vai medir SROI em um projeto de seis meses, tem alguma coisa errada, não dá. É muito curto o espaço para falar de impacto ainda, porque uma transformação social leva tempo. Veja, estamos falando do Lar Sírio aqui completando 100 anos de existência. Não é uma transformação social que acontece do dia para a noite, exige resiliência, investimento, tempo, energia”, alertou Luciana.
Ainda pela manhã Rachel Carneiro, CEO e fundadora da Ideal Social, mediou um painel com Elaine Soares, superintendente do Lar Sírio; Alessandra Frisso, diretora executiva da H2R Insights e Trends; Marcos Muniz, gerente de relações governamentais da Liga Solidária; Paulo Fransozi, gerente regional do SEBRAE; e Rita Puosso, professora de cursos de formação profissional do SENAC. Cada participante apresentou os trabalhos voltados para a formação profissional e a inclusão produtiva de acordo com o olhar de suas instituições, vinculando os setores público, privado e social, sendo reforçada a necessidade de investimento em desenvolvimento institucional, conceito ainda pouco difundido entre as organizações sociais.
No início da tarde, Josias Barcelos, procurador do Município de São Paulo, tratou sobre o mercado e a inclusão produtiva sob a ótica das políticas públicas, começando por explicar o que são tais políticas, tendo como base a Constituição Federal, o Estatuto da Juventude e como a proteção à juventude e o direito ao trabalho estão relacionados a outros microssistemas que garantem direitos difusos (direitos que abrangem grupos indeterminados de pessoas como o direito ao meio ambiente saudável, o direito à educação, o direito à saúde pública e o direito à cultura) e coletivos (direitos que abrangem um grupo determinado de indivíduos como crianças, idosos e juventude, objeto do workshop), sendo um desses direitos garantidos ao jovem o direito à profissionalização, ao trabalho e à renda, previsto no Artigo 14 da Lei 12.852/2013, o Estatuto da Juventude.
“Logicamente quem está entrando no mercado de trabalho é o jovem e isso não era pensado no texto original da Constituição de 88 e aqui eu penso em condições de liberdade, equidade. É essa equidade que se faz na hora (da decisão) do nosso gestor público, porque ele vai pensar aonde colocar os cursos de qualificação. Ele vai colocar aqui na Avenida Paulista ou ele vai colocar em Cidade Tiradentes, Parelheiros, São Mateus? Não tem dinheiro para todo mundo, é preciso fazer um recorte”, afirma Josias.
O painel que aconteceu na sequência reuniu especialistas do poder público e tratou sobre a proteção e o atendimento dos adolescentes e jovens em situação de maior vulnerabilidade social e a dificuldade de preenchimento de vagas abertas. Participaram a Dra. Kátia Giraldi, defensora pública do Estado de São Paulo; Mauro Silva, supervisor da Supervisão de Assistência Social da Subprefeitura Mooca; e Rodrigo Goulart, secretário municipal de desenvolvimento econômico e trabalho.
O secretário Rodrigo Goulart falou sobre a dificuldade em preencher as vagas de trabalho, seja com ou sem qualificação, utilizando o exemplo da ALOBRAS. “Nós fomos procurados pela Associação dos Lojistas do Brás, que tem um apagão de vagas que eles calculam que só ali, naquele circuito de compras, de 10 mil vagas abertas”. Ele pontuou que entre as dificuldades de contratação está o fato de muitas pessoas não se interessarem em se formalizar para não perderem o benefício social que já recebem do Governo, preferindo permanecer na informalidade.
Fechando o workshop, Rodrigo Dib, superintendente de inovação do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) apresentou um panorama do jovem brasileiro no mundo do trabalho com uma atenção ao Programa Jovem Aprendiz, o qual pontua que grande parte das empresas não cumpre a cota de aprendizes prevista na Lei 10.097/2000. “Se todos cumprissem a cota teríamos 1,4 milhão de jovens aprendizes no Brasil, mas hoje temos 637 mil”.
Um dos dados do Ministério do Trabalho trazidos por Rodrigo é que, dos 14,5 milhões de jovens ocupados, 44% trabalham de maneira informal, sem direitos trabalhistas e recebem cerca de 40% menos que os demais. E faz um destaque: “Olhem que 67% de quem é jovem e trabalha CLT (registrado pela Consolidação das Leis Trabalhistas) ganha abaixo de uma média de R$1800,00 e aí é óbvio que ele tem todos os descontos. E obviamente que se ele for ter um pensamento imediatista, de trabalhar oito horas por dia, pegar busão lotado, ter o maior deslocamento para ganhar R$1.000,00, ele vai preferir a informalidade que ele tira uns R$900,00 mas não tem chefe, não tem carga horária, tem um sentimento de liberdade, então é explicável. Muita gente fala que o jovem não quer ser CLT, não acreditem nisso, não existe nenhum dado confiável, estatístico que mostre isso”.
Opiniões de quem participou
Monica Etchenique, presidente da Liga Solidária, comentou sobre a importância de mensurar o impacto social e sobre a troca de conhecimentos que eventos como o Workshop IDEIAS possibilitam. “Enquanto trabalho social, tenho certeza que todas fazem muito bem feito, mas é importante ver o resultado desse trabalho. Eventos como esse são importantíssimos e essa troca é uma das coisas que nos ajudam a ver nossas diferenças e onde a gente pode melhorar aquilo que estamos fazendo. Essas trocas são importantíssimas, aquilo que um sabe leva para o conhecimento do outro, é tudo de bom, é a melhor coisa que pode ter”.
Paulo Fransozi, gerente do SEBRAE, falou sobre a importância em participar do 4º Workshop IDEIAS. “É muito cara ao SEBRAE a questão da inclusão produtiva. Quando nós estamos aqui, a gente vem beber um pouco dessa fonte do que está acontecendo de inclusão produtiva no resto do país. Nós, junto com o Lar Sírio, já temos uma série de ações que desenvolvemos em pró de incluir as pessoas, principalmente os jovens, para que eles possam, ao chegar na vida adulta, entender que o empreendedorismo pode ser uma opção de carreira, uma opção de vida”.
Para Rafael Amorim, gerente do CEDESP (Centro de Desenvolvimento Social e Produtivo) da Casa José Coltro, o evento foi importante. “Foi um dia muito importante para o trabalho que a gente desenvolve lá na Casa José Coltro, a gente trabalha com empregabilidade, trabalha com jovens, então trouxe algumas ideias, alguns insights para a gente realmente avaliar como a gente pode analisar os dados, analisar com propriedade os impactos que a gente vem desenvolvendo dentro do território do Capão Redondo”.
Carolina Silva, vice-presidente da Novva Social, ressaltou a importância do diálogo sobre as pautas do evento. “Estou muito feliz de estar aqui e todas as pautas que estão sendo faladas são muito importantes de serem dialogadas enquanto sociedade. O que falta para a gente é justamente esse diálogo aberto de trocas, de humanidade mesmo, além das nossas funções sociais”.
Para Augusto Thales, jovem que cresceu como atendido e hoje é jovem aprendiz do Reino da Garotada de Poá, a experiência foi um aprendizado. “Tem algumas coisas que a gente não entende muito porque a gente não vive isso e outras que dá para captar certinho. Como a gente não vive isso, a gente (jovens) tá meio que vendo a visão de vocês (adultos), a gente tá vendo o processo que vocês fazer para a gente entrar em um trabalho formal do que um trabalho mais informal. Sendo uma primeira experiência de trabalho, é muito legal saber o outro lado da história”.
Giulia Santos, orientadora educacional do Reino da Garotada de Poá, contou sobre a prática dos conteúdos no dia a dia e sobre importância de trazer os jovens para o evento. “Quando a gente participa de eventos como esse que o Lar Sírio está proporcionando e estamos do lado de cá da formação dessa inserção dos jovens, podemos fazer esse comparativo do trabalho que a gente tem lá na instituição com os trabalhos das outras instituições que estão participando, com os profissionais que vêm contribuir com o seu conhecimento, com os dados, com as informações de políticas públicas que muitas vezes a gente trabalha na prática todos os dias, mas na rotina deixamos essas reflexões com menos espaço na teoria mas na prática estão sempre muito ativas. E quando a gente pensa nisso como reflexo nos jovens, de trazer os jovens para participar, ouvir, mesmo que para eles seja um tema mais cansativo, mais moroso, a gente também pensa que é uma oportunidade para ouvir o outro lado e adentrarem esse universo”.
Texto: Anderson Bueno / Fotos: Daniela Kopaz - Comunicação Social Lar Sírio




























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