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Foto do escritorLar Sírio Pró-Infância

O chamado da floresta: Lar Sírio recebe o renomado artista Alexandre Orion

Artista multimídia apresentou projeto, falou da carreira e interagiu com as crianças e adolescentes


Na quinta-feira, 19 de setembro, o Lar Sírio Pró-Infância recebeu o artista multimídia Alexandre Orion, que apresentou “O chamado da floresta”, projeto apoiado pela Lei Rouanet do qual é interlocutor. A obra, um mural com 2.100m² de tamanho, está localizada na empena do Edifício Garagem, na icônica Rua 25 de março e foi inaugurada em 9 de setembro.

Criado pelo artista indígena Denilson Baniwa com o apoio técnico de Alexandre Puga, o mural simboliza a urgente necessidade de preservação da fauna e da flora brasileira. Inspirado no “Mestre das Onças”, um dos seres mais poderosos do Cosmo na cultura indígena, o mural resgata a conexão perdida entre homem e natureza, nos lembrando da importância de preservar o que ainda temos.


Orion, que foi convidado a apresentar o projeto ao Lar Sírio pela conselheira Lilian Narchi, conversou com as crianças e adolescentes atendidos pelo Lar, abrindo a palavra para ouvir o que os pequenos tinham a dizer.



Alexandre Orion é um artista multimídia reconhecido internacionalmente. Com carreira iniciada em 1992 sob a influência da cultura urbana e do universo do graffiti, já criou diversos murais e realizou exposições individuais em diversas capitais pelo mundo. No Brasil suas obras já foram exibidas em espaços como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Itaú Cultural, Caixa Cultural e Centro Cultural Banco do Brasil, além de ter textos e entrevistas publicados em mais de 10 línguas.


Líris Tavares, da equipe de Comunicação do Lar Sírio, realizou uma entrevista exclusiva com Alexandre, que você acompanha na sequência:


Como você começou na arte? O que despertou seu interesse pela arte urbana?


Eu nunca fiz nada que não estivesse relacionado a desenho. De alguma forma, tudo que eu fazia tinha uma conexão direta com a arte. Mesmo nos trabalhos comerciais que fiz quando mais jovem, como ilustração e tatuagem, sempre havia essa ligação com o desenho e as artes.

A arte urbana surgiu por meio da minha relação com o movimento hip-hop, que não se limitava à música, mas também tinha um lado social e de questões raciais. Além disso, o fato de eu estar muito na rua, andando de skate, fortaleceu essa conexão com a cultura urbana, que me levou ao graffiti. Eu já desenhava e pintava, mas foi aos 13 anos que fiz meu primeiro graffiti. Isso acabou definindo minha trajetória. Naquela época, havia poucos artistas, e eu pintei as paredes das escolas onde estudei. Cheguei a estudar eletrônica, mas não me identifiquei, e mesmo lá pintei as paredes da Getúlio Vargas, onde cursei por um período. A arte acabou sendo um caminho natural para mim.


Quais os principais desafios em ser um artista?


A arte, por si só, já é desafiadora. Algumas profissões são para poucas pessoas, como ser um jogador de futebol da Seleção Brasileira. Com a arte é semelhante: é difícil se estabelecer e viver disso, e esse é o primeiro grande desafio.

Na arte urbana, o fato de estar na rua traz desafios próprios, como a violência. A rua é um ambiente complexo. Mas, no fim, o maior desafio para mim é criar algo que gere respeito e reflexão. Eu penso a rua como um espaço coletivo. Por isso, quando faço algo na rua, não me sinto à vontade apenas para escrever meu nome, apesar de respeitar quem faz isso. Gosto de usar a rua como plataforma para narrativas, para dizer algo significativo ao coletivo. O grande desafio é sempre entender que mensagem quero transmitir e qual sua relevância. Pensar que narrativas são essas e a validade que elas têm, a importância que elas têm pro coletivo é a parte mais complexa.


A arte também leva a gente ao lugar de aprender a observar, aprender a ficar quieto e observar pra depois expor.


Sim... E ficar quieto é uma coisa que eu não sei fazer, então você imagina que o meu desafio é maior ainda, mas observar eu observo, ainda que inquieto.


Tem uma fala sua que diz “a cidade é carregada de significados” e em obras como “Poluição sobre muro” e “Polugrafia” você usa elementos não convencionais. O que fez pensar em usar a poluição ao seu favor e utilizar as partículas da poluição como técnica?


É interessante, muitas ideias na arte vêm de matrizes já estabelecidas. Os materiais e as técnicas também são milenares. Uma das melhores tintas nanquim do mundo, por exemplo, ainda é feita a partir da fuligem em casas de fumo na China. Então precisamos olhar pro que está acontecendo agora e ressignificar.  Existem críticos de arte importantíssimos que dizem que a história da arte encerrou porque "tudo já foi feito em arte", mas o que eles não perceberam é que ainda dá pra combinar o que já foi feito de novas formas, misturar tudo e criar o novo. O que eu faço é olhar pras possibilidades, perceber o que está acontecendo ao meu redor e ressignificar.


Qual o sentimento de ver as interações externas com sua arte e qual a sensação de vê-la em outros países com culturas diferentes e olhares diferentes dos nossos?


É muito interessante e complexo trabalhar em culturas diferentes. Entender a própria cultura já é desafiador, imagina lidar com culturas totalmente distintas. O fascinante é que a linguagem visual, ao contrário das palavras, pode atravessar barreiras culturais e linguísticas.Cada pessoa interpreta a arte de forma única, e ouvir essas interpretações, especialmente em outros países, é algo que me enriquece muito. É gratificante ser convidado para expor em outro país, porque isso significa que sua arte falou a lingua do mundo, eles já validaram meu trabalho e reconheceram o seu valor.


Cada um vai ter a tua visão, né?


Exatamente, mas eu gosto muito de ouvir as pessoas falarem, não só aqui nessa dinâmica com as crianças, que a gente abre o microfone para que elas falem. Eu acho isso importante, ouvir a impressão delas e acho muito importante que elas estejam refletindo e interpretando também. Não dá pra gente só falar, a gente tem que ouvir sempre. E no caso de outros países, em outras culturas é muito interessante você ouvir a partir de um repertório muito diferente do seu, o que que é que a pessoa interpreta daquilo que você tá fazendo.


Elementos da arte urbana como graffiti, skate, rap e batalha de rimas estão se popularizando e sendo transmitidos em grandes canais da internet. Então qual a importância da arte urbana na vida dos jovens, principalmente quando não se tem recursos para consumir uma arte que muitas vezes é elitizada?


Quando falamos de arte urbana, estamos nos referindo a uma categoria mais ampla, que pode incluir skate e outras expressões culturais urbanas. A migração das populações para as grandes cidades tem trazido a cultura urbana para o centro das discussões. É interessante ver como o skate, por exemplo, que antes era associado à rebeldia e às drogas, se tornou um esporte olímpico. O mesmo vale para o break dance, que era dos guetos e também se tornou esporte olímpico.

O graffiti, por muito tempo tratado como algo marginal, hoje tem uma indústria com catálogos de cores e técnicas especializadas. Quando comecei, misturava minhas próprias tintas no spray, criando as cores que precisava. Ver como isso evoluiu mostra como a cultura urbana é algo crescente em nossas vidas.

O graffiti e a arte me salvaram. Cresci numa Cohab e tive muitas oportunidades de seguir caminhos errados, mas a arte me deu uma perspectiva e possibilidades. Mesmo que alguém não viva financeiramente da arte, ela nos mostra que a vida é mais do que rotina.


Qual recado que você deixa para as crianças e adolescentes?


Ah, preciso te dizer que me emociona muito esse tipo de encontro. É muito bonito ver um espaço como este, bem equipado e acolhendo a juventude. Meu recado para os jovens é, primeiro, parabenizá-los por estarem aqui, estudando e se dedicando. Mais importante ainda é que eles entendam que o mundo é deles. Alguns espaços de cultura como museus e galerias são opressores, bancos também, aeroportos, mas são todos espaços públicos e devemos nos sentir à vontade neles. O mundo todo é deles, e eles precisam tomar as rédeas. As gerações anteriores fizeram muitas coisas erradas, e agora cabe a eles corrigir. Quero que se sintam à vontade no mundo para mudá-lo, que nunca se sintam oprimidos. O mundo é para ser vivido e melhorado por eles. 


Comunicação Social - Lar Sírio Pró-Infância

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